DENTRO DE MIM TENHO A MORTE DE VÁRIOS SÓIS.
METEOROS SE CHOCANDO CONTRA PLANETAS.
INÚMEROS BIG-BANGS.
DENTRO DE MIM TENHO TSUNAMIS
TORNADOS
TERREMOTOS
VULCÕES EM ERUPÇÃO.
TENHO O DIA
O ESPERTAR DOS PIVETES
A ESMOLA DO PEDINTE PARA COMPRAR O CAFÉ DA MANHÃ
O REGRESSO DISCRETO DAS ANDORINHAS PARA O LAR
ESVAZIANDO A AUGUSTA.
OS SENHORES ALICIANDO AS ESTUDANTES NOS ÔNIBUS.
AS SENHORAS TRAIDAS PELO TEMPO
AMARGURADAS PELA HISTÓRIA.
OS TRAFICANTES COM OS BOLSOS CHEIOS DE PINOS.
OS PSICOPATAS
COM O TERNO BEM PASSADO PELA ESPOSA
CARREGANDO UMA MALETA CHEIOS DE DOCUMENTOS IMPORTANTES
E UM CALIBRE 22
SEMPRE CARREGADA.
SEMPRE CARREGADA.
A TRISTEZA DAS GAROTAS CHORANDO NAS ESTAÇÕES DE METRÔ.
A IMPÁFIA DOS VENDEDORES DE LOJAS DE SHOPPING.
OS PSICOTRÓPICOS E OS ANTIRETROVIRAIS CONSUMIDOS NO DESJEJUM
PELAS PESSOAS QUE MENOS IMAGINAM.
OS CORAÇÕES INABITADOS DA CIDADE.
DENTRO DE MIM
TENHO A NOITE
O DESTINO BURLESCO DOS TRAVESTIS
A VOLTA DAS ANDORINHAS PARA O SEU HABITAT
OS MIADOS DOS GATOS
OS TRAPACEIROS
OS JUNKIES
AS GARRAFAS DE BEBIDAS NOS BARES
AS BRIGAS DE RUA
OS POETAS TROPEÇANDO NO MEIO FIO
AS POESIAS QUE FLUTUAM NO AR
E SE MISTURAM COM O FÉTIDO CHEIRO DE URINA.
A MARGINALIDADE DAS RUAS
A ERUDIÇÃO DOS INTELECTUAIS.
CAMINHADAS EM SÃO PETESBURGO COM RASKOLNIKÓV
DESPERTAR COM GREGOR SAMSA
FUGAS DO ASILO ARKHAM COM O CORINGA
BEBER COM ARTURO
VER O MESMO SOL QUE MEURSAULT.
DENTRO DE MIM
TENHO O SILÊNCIO
QUE ADVÉM APÓS A PAZ DERRADEIRA.
NÃO USO RELÓGIO PARA ELA NÃO ME PEGAR.
MUDO DE CASA PARA ELA NÃO BATER NA MINHA PORTA.
MUDO DE NOME PARA NÃO SER ACHADO.
MAS OUÇO OS MÚRMURIOS:
"MORRA LUKAS BANDINI".
"MORRA LUKAS BANDINI".
NÃO ME PREOCUPO
PORQUE DENTRO DE MIM
TENHO A ÂNSIA FILHA-DA-PUTA DE CONTAR HISTÓRIAS.
OS MEUS PERSONAGENS
AS MINHAS POESIAS.
DENTRO DE MIM
TENHO O UNIVERSO
TENHO EU
TENHO VOCÊ
E O ÚNICO LUGAR ONDE NINGUÉM PODE NOS ALCANÇAR
A ETERNIDADE.
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