segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

PERSONAS GENS



PRIMEIRO

ELA CHEGA E TIRA DE UM DOS BOLSOS UMA CAIXINHA DAQUELAS BALAS TIC-TAC .
Ela se chama Carol e não consegue ter um relacionamento sério. Ela tem medo de encontrar o amor da sua vida e por isso fica enclausurada dentro de casa. Quando pequena, o pai era o amor da vida de sua mãe, até o dia em que ele esqueceu o pen-drive no computador com todas as fotos da amante... o engraçado é que a mãe não ligou para o trabalho dele esbaforida e nervosa, nem jogou as roupas dele pela janela... ela foi fazer um teste de HIV e deu Positivo. Eles se separaram e não casaram com mais ninguém e morreram sós. “A gente confia e dá a vida para a pessoa e ela nos dá uma maldição.”  ELA PEGA UM COPO DE ÁGUA , SACODE A CAIXINHA DE TIC-TAC, TIRA UMA BALA E  ENGOLE  COMO SE FOSSE UMA MEDICAÇÃO. “Por trás de um perfeito amor da sua vida, vêm também uma maldição perfeita para você.”

SEGUNDO

ELE A DORMÊNCIA NO DEDO INDICADOR ERA UMA REAÇÃO DA QUEIMADURA LEVE QUE TEVE COM O MAÇARICO AO ACENDER O FOGÃO.
Ele se chama Guto e não consegue parar de comprar drogas. Apesar de não ser usuário, ele sempre as compra. Quando pequeno, o tio que era o seu símbolo de segurança havia lhe mostrado uma arma. O tio colecionava armas. Ele entendeu que a arma também é um símbolo de segurança. O tio morreu de parada cardíaca e todas as armas foram doadas. Guto compra drogas para ver a arma que o traficante empunha com destreza. Como sempre compra no mesmo lugar, virou amigo do traficante e ás vezes Guto empunha a arma do seu amigo fornecedor de sonhos fracionados. Empunha-a descarregada... é claro. Quando está com ela em mãos lembra-se do tio e se sente seguro.” Podia comprar uma arma, mas isso faria me encontrar com o meu tio.” ELE INCOMODADO COM A DORMÊNCIA DO INDICADOR, O MOVIMENTA COMO SE TIVESSE PUXANDO UM GATILHO. “Por enquanto, prefiro sentir a sua falta...só a sua falta...MOVE O DEDO...por enquanto.    

TERCEIRO

ELA TEM UMA MANIA BEM COMUM, MAS AGONIZANTE. ELA ESTALA OS DEDOS DA MÃO COM MUITA FORÇA, QUASE OS QUEBRANDO... ATÉ DOEREM.
“Ela se chama Emanuelle e não consegue parar de estalar os dedos. Ás vezes quando já estalou todos os dedos, fica olhando para a própria mão esperando a hora de estalar de novo. Há um ano o namorado a deixou e ela sentiu muita dor. “Uma dor aqui...no meio do peito dilacerando tudo.” Ela fez fisioterapia, tomou remédios, passou com terapeutas e nada. Até o dia em que acordou sem a dor. Nenhuma dor. Não havia nada no peito e parece que os ossos do tórax haviam se soltado.Ficou sabendo que o seu ex-namorado estava noivo. Sem dor. Ficou sabendo que a noiva dele pode estar grávida. Sem dor. Ficou sabendo de tantas outras coisas que dilaceram o nosso peito. “Eu tenho que ter uma válvula de escape, alguma atividade enquanto a dor não volta.” ELA ESTALA O DEDO ANELAR E SORRI. “A dor...a única coisa que nos sobrou e esses barulhos de estalos que tentam pontuar o tempo que me resta.”

QUARTO

ELE TINHA UM SEMBLANTE MELANCÓLICO E UM ROSTO QUE ERA DESENHADO PELO TEMPO. CADA LINHA DO ROSTO TINHA UMA HISTÓRIA, MAS UMA HISTÓRIA ESQUECIDA PELOS LIVROS DIDÁTICOS. ELE ERA UMA ESPÉCIE DE MAPA COM FRONTEIRAS, TERRITÓRIOS E... MAS SEM O OCEANO.  
“Ele se chamava Pietro e não conseguia rir. Achava que rir era uma perda de tempo. Quando ia ao circo quando pequeno, não achava a menor graça na figura do palhaço. “Não há graça na vida, não tem motivo para rir... temos que trabalhar e estarmos prontos para o inesperado e não rir dele.” Pietro passou toda a sua vida sem rir. Oitenta anos reclamando o quanto a vida era dura e difícil. Em uma tarde, no meio da rua teve um derrame que paralisou metade do seu rosto.”Estava horrível, tinha vergonha de sair na rua e as pessoas rirem da minha cara”. ELE FALA SEM MOVER OS LÁBIOS, COMO UM BONECO DE VENTRILOQUO. Mas ele tomou coragem e saiu. Andou, andou e notou que ninguém o olhava com espanto, com graça ou indiferença. Pietro se incomodou e foi perguntar ao dono da banca de jornal, depois ao fabricante de tortas de chantilly e ao gerente da loja de perucas...todos eles deram a mesma resposta: - Você continua o mesmo, enquanto nós nos refrescamos e festejamos a vida com os amigos nas florestas tropicais, você segue o mesmo, assim como o deserto: árido, seco e sem vida.” PIETRO SORRI.

QUINTO E ÚLTIMO

EU TENHO SÉRIAS DIFICULDADES DE DORMIR. POR ISSO ESCREVO... PARA PASSAR O TEMPO QUE ME RESTA

“Eu me chamo Luis e não consigo dormir.
Apenas quando amanhece sinto sono.
 O sol é o meu despertador inverso.
Não acredito em um amor da minha vida.
Não tenho mais nenhum símbolo de segurança.
Eu sinto uma dor no peito na maior parte do tempo.
LEVANTO-ME E VOU A GELADEIRA PEGAR CERVEJA.
Gosto de festejar a vida com os amigos nas florestas tropicais.
Rio e gargalho principalmente da cara de senhoras e senhores que são pretensiosos o bastante de achar que podem dividir o mundo em preto e branco.
Quero os ver regrarem o azul do céu.
Proibir o verde das árvores.
Criar uma lei que mude a cor vermelha de seu sangue.
TOMO UM GOLE DE CERVEJA
Sinto náuseas.
Ele se chama Jesus.
Um mal estar no estômago.
Ele é taxista e o ponto dele é sempre em frente á uma casa de swing.
Dificuldades para respirar.
Ele escolheu esse ponto para cobiçar a mulher do próximo, sem parecer pecado.
Acho que vou vomitar.
No final da noite, quando chega em casa ele se masturba e chora.
Vomito sangue e sujo a privada...não me assusto.
Mesmo com o dedo sujo de esperma, ele chupa o polegar como uma criança e se encolhe como um bebê descansando em uma manjedoura.
É um novo personagem.
O sangue trás um novo personagem.
O sol está aparecendo. O meu despertador inverso.
QUAL A RELAÇÃO DA TROCA DE PASSAGEIROS DE UM TÁXI E A TROCA DE CASAIS?
Tenho que parar de escrever.
 São 6:17 .
Eles precisam dormir.
Ele se chama Jesus. Como ele é? Tem barba?Lembrar disso...viu Luis.
Ele é taxista e o ponto dele é sempre em frente á uma casa de swing.
Eles precisam.
Eu me chamo Luis.

NÓS TEMOS SÉRIAS DIFICULDADES PARA DORMIR

POR ISSO ESCREVO... PORQUE É TUDO O QUE ME RESTA.