PRIMEIRO
ELA CHEGA E
TIRA DE UM DOS BOLSOS UMA CAIXINHA DAQUELAS BALAS TIC-TAC .
“Ela se chama Carol e
não consegue ter um relacionamento sério. Ela tem medo de encontrar o amor da
sua vida e por isso fica enclausurada dentro de casa. Quando pequena, o pai era
o amor da vida de sua mãe, até o dia em que ele esqueceu o pen-drive no
computador com todas as fotos da amante... o engraçado é que a mãe não ligou
para o trabalho dele esbaforida e nervosa, nem jogou as roupas dele pela janela...
ela foi fazer um teste de HIV e deu Positivo.
Eles se separaram e não casaram com mais ninguém e morreram sós. “A gente
confia e dá a vida para a pessoa e ela nos dá uma maldição.” ELA PEGA UM COPO DE ÁGUA , SACODE A
CAIXINHA DE TIC-TAC, TIRA UMA BALA E
ENGOLE COMO SE FOSSE UMA
MEDICAÇÃO. “Por trás de um perfeito amor
da sua vida, vêm também uma maldição perfeita para você.”
SEGUNDO
ELE A
DORMÊNCIA NO DEDO INDICADOR ERA UMA REAÇÃO DA QUEIMADURA LEVE QUE TEVE COM O
MAÇARICO AO ACENDER O FOGÃO.
“Ele se chama Guto e não consegue parar de
comprar drogas. Apesar de não ser usuário, ele sempre as compra. Quando
pequeno, o tio que era o seu símbolo de segurança havia lhe mostrado uma arma.
O tio colecionava armas. Ele entendeu que a arma também é um símbolo de
segurança. O tio morreu de parada cardíaca e todas as armas foram doadas. Guto
compra drogas para ver a arma que o traficante empunha com destreza. Como
sempre compra no mesmo lugar, virou amigo do traficante e ás vezes Guto empunha
a arma do seu amigo fornecedor de sonhos fracionados. Empunha-a descarregada...
é claro. Quando está com ela em mãos lembra-se do tio e se sente seguro.” Podia
comprar uma arma, mas isso faria me encontrar com o meu tio.” ELE INCOMODADO
COM A DORMÊNCIA DO INDICADOR, O MOVIMENTA COMO SE TIVESSE PUXANDO UM GATILHO. “Por enquanto, prefiro sentir a sua
falta...só a sua falta...MOVE O DEDO...por
enquanto.
TERCEIRO
ELA TEM
UMA MANIA BEM COMUM, MAS AGONIZANTE. ELA ESTALA OS DEDOS DA MÃO COM MUITA
FORÇA, QUASE OS QUEBRANDO... ATÉ DOEREM.
“Ela se chama Emanuelle e não
consegue parar de estalar os dedos. Ás vezes quando já estalou todos os dedos,
fica olhando para a própria mão esperando a hora de estalar de novo. Há um ano
o namorado a deixou e ela sentiu muita dor. “Uma dor aqui...no meio do peito
dilacerando tudo.” Ela fez fisioterapia, tomou remédios, passou com terapeutas
e nada. Até o dia em que acordou sem a dor. Nenhuma dor. Não havia nada no
peito e parece que os ossos do tórax haviam se soltado.Ficou sabendo que o seu
ex-namorado estava noivo. Sem dor. Ficou sabendo que a noiva dele pode estar
grávida. Sem dor. Ficou sabendo de tantas outras coisas que dilaceram o nosso
peito. “Eu tenho que ter uma válvula de escape, alguma atividade enquanto a dor
não volta.” ELA
ESTALA O DEDO ANELAR E SORRI. “A dor...a
única coisa que nos sobrou e esses barulhos de estalos que tentam pontuar o
tempo que me resta.”
QUARTO
ELE
TINHA UM SEMBLANTE MELANCÓLICO E UM ROSTO QUE ERA DESENHADO PELO TEMPO. CADA
LINHA DO ROSTO TINHA UMA HISTÓRIA, MAS UMA HISTÓRIA ESQUECIDA PELOS LIVROS
DIDÁTICOS. ELE ERA UMA ESPÉCIE DE MAPA COM FRONTEIRAS, TERRITÓRIOS E... MAS SEM
O OCEANO.
“Ele se chamava Pietro e não
conseguia rir. Achava que rir era uma perda de tempo. Quando ia ao circo quando
pequeno, não achava a menor graça na figura do palhaço. “Não há graça na vida,
não tem motivo para rir... temos que trabalhar e estarmos prontos para o
inesperado e não rir dele.” Pietro passou toda a sua vida sem rir. Oitenta anos
reclamando o quanto a vida era dura e difícil. Em uma tarde, no meio da rua
teve um derrame que paralisou metade do seu rosto.”Estava horrível, tinha
vergonha de sair na rua e as pessoas rirem da minha cara”. ELE FALA SEM MOVER OS LÁBIOS,
COMO UM BONECO DE VENTRILOQUO. Mas ele
tomou coragem e saiu. Andou, andou e notou que ninguém o olhava com espanto,
com graça ou indiferença. Pietro se incomodou e foi perguntar ao dono da banca
de jornal, depois ao fabricante de tortas de chantilly e ao gerente da loja de
perucas...todos eles deram a mesma resposta: - Você continua o mesmo, enquanto
nós nos refrescamos e festejamos a vida com os amigos nas florestas tropicais,
você segue o mesmo, assim como o deserto: árido, seco e sem vida.” PIETRO
SORRI.
QUINTO E
ÚLTIMO
EU TENHO
SÉRIAS DIFICULDADES DE DORMIR. POR ISSO ESCREVO... PARA PASSAR O TEMPO QUE ME
RESTA
“Eu me chamo Luis e não consigo
dormir.
Apenas quando amanhece sinto
sono.
O sol é o meu despertador inverso.
Não acredito em um amor da minha
vida.
Não tenho mais nenhum símbolo de
segurança.
Eu sinto uma dor no peito na
maior parte do tempo.
LEVANTO-ME
E VOU A GELADEIRA PEGAR CERVEJA.
Gosto de festejar a vida com os
amigos nas florestas tropicais.
Rio e gargalho principalmente da
cara de senhoras e senhores que são pretensiosos o bastante de achar que podem
dividir o mundo em preto e branco.
Quero os ver regrarem o azul do
céu.
Proibir o verde das árvores.
Criar uma lei que mude a cor
vermelha de seu sangue.
TOMO UM
GOLE DE CERVEJA
Sinto
náuseas.
Ele se chama Jesus.
Um mal
estar no estômago.
Ele é taxista e o ponto dele é
sempre em frente á uma casa de swing.
Dificuldades
para respirar.
Ele escolheu esse ponto para
cobiçar a mulher do próximo, sem parecer pecado.
Acho que
vou vomitar.
No final da noite, quando chega
em casa ele se masturba e chora.
Vomito
sangue e sujo a privada...não me assusto.
Mesmo com o dedo sujo de esperma,
ele chupa o polegar como uma criança e se encolhe como um bebê descansando em
uma manjedoura.
É um
novo personagem.
O sangue
trás um novo personagem.
O sol
está aparecendo. O meu despertador inverso.
QUAL A
RELAÇÃO DA TROCA DE PASSAGEIROS DE UM TÁXI E A TROCA DE CASAIS?
Tenho
que parar de escrever.
São 6:17 .
Eles
precisam dormir.
Ele se chama Jesus. Como ele é? Tem barba?Lembrar
disso...viu Luis.
Ele é taxista e o ponto dele é
sempre em frente á uma casa de swing.
Eles
precisam.
Eu me chamo Luis.
NÓS TEMOS SÉRIAS DIFICULDADES PARA DORMIR
POR ISSO ESCREVO... PORQUE É TUDO O QUE ME RESTA.